domingo, 15 de junho de 2008
Memória Póstuma
...e no braço direito de deus tinha uma tatuagem: "Minha consciência fica o dia inteiro sentada tomando cafezinho."
domingo, 8 de junho de 2008
Mentiras Brancas
A vontade de brincar de ser outra pessoa parece tomar conta e antes que perceba o que está fazendo, seu sotaque muda. “Estou de férias no Rio, na casa de meus tios”. O motorista da van balança a cabeça para cima e para baixo, em sinal afirmativo, com um sorriso simpático no rosto. Também teve a vez em que ela disse, no táxi, que estava a caminho da casa de sua comadre, para visitar sua afilhada que “coitadinha, há uma semana não dorme direito com febre”.
Sempre, depois desses episódios, divertia-se imensamente relembrando os momentos mais disparatados da conversa, afinal, ela fazia questão de improvisar personas com valores e opiniões distintos dos seus. E quanto mais diferentes dela fossem os personagens interpretados, melhor.
Se esbaldava com a facilidade com que concordava com as opiniões absurdas de taxistas. Concordava, e veementemente, com os reacionários que arriscavam dizer que alguém deveria explodir as favelas do Rio, que a pena de morte é a única solução, que o Brasil só melhora com uma nova era ditatorial. Gargalhava por dentro enquanto dizia as coisas mais incríveis, que nunca pensara poder dizer, já que eram o total oposto do que realmente pensava. Dizia que bandido bom é bandido morto, embora quando ouvisse isso da boca de algum conhecido, repudiasse tais palavras.
Não entendia de onde vinham essas vontades, que pareciam mesmo lhe dominar em certas situações. Cedia a esses caprichos peculiares, mas não ousava comentar os episódios com ninguém, nem tanto por medo do ridículo mas por simplesmente achar que realizá-los lhe bastava.
Sentia-se um pouco atriz, e das boas. Já havia até mesmo chorado uma vez, contando a morte trágica de um amigo fictício que, imprudente, reagiu a um assalto.
Tinha amigos de teatro, que uma vez chamaram-na para atuar em uma peça infantil. “Você seria a bruxa má”, disse o amigo. Espantou-se e sentiu-se secretamente orgulhosa. Pensou durante dois dias e recusou o convite. Disse que não se sentia apta a desempenhar um papel, seja qual fosse, sem um mínimo de preparo.
Mentira. E deslavada. O difícil para ela seria fazer de conta na frente de todo mundo, enquanto sozinha, ela sentia que realmente se tornava a personagem que interpretava. Ela era a madrinha preocupada, a amiga saudosa, a carioca reacionária.
Pensava que era bobagem. Aquilo tudo. Fingir ser outras pessoas e depois nem mesmo comentar com amigos. Mas também, como explicaria as vontades? Não saberia como. Melhor assim. Gostava de ter essa brincadeira consigo mesma, um jogo que era só dela. A diversão era garantida, sem pressões, e depois podia guardá-la, inteirinha, o resto da vida, só para si.
Sempre, depois desses episódios, divertia-se imensamente relembrando os momentos mais disparatados da conversa, afinal, ela fazia questão de improvisar personas com valores e opiniões distintos dos seus. E quanto mais diferentes dela fossem os personagens interpretados, melhor.
Se esbaldava com a facilidade com que concordava com as opiniões absurdas de taxistas. Concordava, e veementemente, com os reacionários que arriscavam dizer que alguém deveria explodir as favelas do Rio, que a pena de morte é a única solução, que o Brasil só melhora com uma nova era ditatorial. Gargalhava por dentro enquanto dizia as coisas mais incríveis, que nunca pensara poder dizer, já que eram o total oposto do que realmente pensava. Dizia que bandido bom é bandido morto, embora quando ouvisse isso da boca de algum conhecido, repudiasse tais palavras.
Não entendia de onde vinham essas vontades, que pareciam mesmo lhe dominar em certas situações. Cedia a esses caprichos peculiares, mas não ousava comentar os episódios com ninguém, nem tanto por medo do ridículo mas por simplesmente achar que realizá-los lhe bastava.
Sentia-se um pouco atriz, e das boas. Já havia até mesmo chorado uma vez, contando a morte trágica de um amigo fictício que, imprudente, reagiu a um assalto.
Tinha amigos de teatro, que uma vez chamaram-na para atuar em uma peça infantil. “Você seria a bruxa má”, disse o amigo. Espantou-se e sentiu-se secretamente orgulhosa. Pensou durante dois dias e recusou o convite. Disse que não se sentia apta a desempenhar um papel, seja qual fosse, sem um mínimo de preparo.
Mentira. E deslavada. O difícil para ela seria fazer de conta na frente de todo mundo, enquanto sozinha, ela sentia que realmente se tornava a personagem que interpretava. Ela era a madrinha preocupada, a amiga saudosa, a carioca reacionária.
Pensava que era bobagem. Aquilo tudo. Fingir ser outras pessoas e depois nem mesmo comentar com amigos. Mas também, como explicaria as vontades? Não saberia como. Melhor assim. Gostava de ter essa brincadeira consigo mesma, um jogo que era só dela. A diversão era garantida, sem pressões, e depois podia guardá-la, inteirinha, o resto da vida, só para si.
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