quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Boris e Eraldo - Simples
É claro que a dupla de cabelo colorido "fanta uva e laranja" chamavam atenção. Mesmo num ambiente universitário. Os únicos que pareciam não se impressionar eram os inspetores, faxineiros, enfim, todos que participavam do corpo administrativo. Agiam como se aquelas figuras fossem visitantes que constantemente apareciam. Até trocavam intimidades com piscar de olhos, comprimentos com o polegar e alguns "opa! Tudo bem?"
Já os alunos, declaravam sua insatisfação com caras estranhas e olhares de "que porra é essa?", principalmente quando tinham o infortúnio de se deparar com as camisas das figuras estranhas. Uma era laranja, combinando com o penteado estranho do dono, com a frase "Foda-se a internet. Eu leio a Barsa" e a outra, mais fácil de definir como um pano de chão com cortes para passar cabeça e braços, tinha "caralhinhos voadores" desenhados a mão. Óbvio que os estudantes não estavam achando aquilo legal nem "puta! que idéia foda!" O que incomodava era: "Porra, quem deu direito a esses caras usarem frases com palavrão ou desenhos pornográficos? Pior, porque a gente não pode?"
A visita estava chegando ao fim, a dupla já estava no último corredor da faculdade em direção ao portão principal. Mas é claro que algo tinha que acontecer. Dessa vez foi uma coisa bem simples que disparou a indignação do cabeça de fogo. A última porta do corredor tinha um placa avisando "Sociologia Turma 111". Sociologia. Dá pra acreditar que esse foi o problema dessa vez? Socio - logia. Que azar.
Bem, o senhor "cabelo tons de por do sol na paria de Ipanema com direito a aplausos" leu aquela palavrinha e, visivelmente insultado, adentrou na sala. Ignorando a cara de espanto do professor e seus alunos, decorreu o seguinte discurso:
- Sério! Vocês tem que entender que é tudo mais simples do que vocês imaginam. Vou tentar explicar de uma maneira bem sintética, do jeito que, na verdade, a questão é. Todos querem ter tudo. Mas é impossível todos terem tudo. Para se ter tudo, alguns tem que ter muito pouco. Por isso existem três tipos de pessoas. O primeiro tipo chamarei de Realizados. Eles estão no poder, logo tem tudo, ou a sensação. E para se manter no topo da pirâmide criam, e recriam quando necessário, a moral - do latim normal. A moral faz com que os outros dois grupos sejam recompensados quando fazem o que é considerado normal e punidos quando fogem da normalidade. Para patrocinar e punir o segundo grupo, os Ascendentes Resignados, que também querem ter tudo um dia, se fazem necessários. Por último, e menos importante, estão os Seguidores, que, deixe-me ser criativo, hummm, obedecem já que eles não tem nada. Então, o objeto de estudo da Sociologia deveria ser somente, e tão somente, a relação entre esses três grupos. Assim, vocês chegariam mais rápido a conclusão que por mais que exista um grupo que cria, outro que promove a criação e um último que acha legal, flutuar entre os grupos é uma questão de escolha, vindo do exercício do comportamento privado e o teatro público. Sei, ficou meio conceitual esse final, mas não tem problema, já falei sobre os três grupos, o resto vocês podem fazer sozinho.
Normalmente, nesse tipo de situação, surgiria um silêncio que teria sua maturidade atingida em 30 segundos. Só que não foi o que aconteceu. Um aluno se levantou e começou a falar como se fosse possível ricochetear uma bola de canhão com uma pena de galinha:
-Você disse que a questão é sintética, mas apresenta como função majoritária da Sociologia três grupos e além disso formaliza um produto final de extrema abstração. Não concordo com sua visão, prefiro continuar como o objeto de estudo a sociedade. Simples assim.
- Simples assim, é? Tá bom. - pausa para fingir que aceitou - Sapo!
Ninguém pode perceber, mas o único aluno que foi capaz de reagir prontamente ao desafio de questionar a definição de sociologia "bem sintética, do jeito que, na verdade, a questão é" teve seu cérebro trocado com um Telmatobius culeus, um sapo, que existe apenas em um lugar remoto na terra. É claro que tamanha transmigração de massa cefálica teve um impacto drástico no poder de cognição do rapaz, que ainda conseguiu, brilhantemente, sentar-se e abrir levemente a boca, estado em que se encontrava a grande maioria das bocas que habitava a sala. O que deixaria orgulhoso, famoso e rico o descobridor da rara espécie de anfíbio. Pois teria conseguido, com esta evidência, por fim, provar a capacidade desse animal em imitar movimentos humanos.
Na saída da faculdade o diálogo entre o estranho par foi inevitável:
- Eu pensava que você iria falar sobre aquele negócio de "areia e cimento. Tudo se resume a areia e cimento. O que é natural e o que o homem pode fazer da natureza."
- Isso é a questão final da Filosofia.
- Ah tá. Bem, podemos ir lá no Titicaca ver como ficou?
- Ficou o que?
- O sapo. Quero ver como fica um sapo com mais de 2 quilos de neurônios na caixola.
- Não. Vai você. Fico com dor de cabeça em lugares de grandes altitudes.
Já os alunos, declaravam sua insatisfação com caras estranhas e olhares de "que porra é essa?", principalmente quando tinham o infortúnio de se deparar com as camisas das figuras estranhas. Uma era laranja, combinando com o penteado estranho do dono, com a frase "Foda-se a internet. Eu leio a Barsa" e a outra, mais fácil de definir como um pano de chão com cortes para passar cabeça e braços, tinha "caralhinhos voadores" desenhados a mão. Óbvio que os estudantes não estavam achando aquilo legal nem "puta! que idéia foda!" O que incomodava era: "Porra, quem deu direito a esses caras usarem frases com palavrão ou desenhos pornográficos? Pior, porque a gente não pode?"
A visita estava chegando ao fim, a dupla já estava no último corredor da faculdade em direção ao portão principal. Mas é claro que algo tinha que acontecer. Dessa vez foi uma coisa bem simples que disparou a indignação do cabeça de fogo. A última porta do corredor tinha um placa avisando "Sociologia Turma 111". Sociologia. Dá pra acreditar que esse foi o problema dessa vez? Socio - logia. Que azar.
Bem, o senhor "cabelo tons de por do sol na paria de Ipanema com direito a aplausos" leu aquela palavrinha e, visivelmente insultado, adentrou na sala. Ignorando a cara de espanto do professor e seus alunos, decorreu o seguinte discurso:
- Sério! Vocês tem que entender que é tudo mais simples do que vocês imaginam. Vou tentar explicar de uma maneira bem sintética, do jeito que, na verdade, a questão é. Todos querem ter tudo. Mas é impossível todos terem tudo. Para se ter tudo, alguns tem que ter muito pouco. Por isso existem três tipos de pessoas. O primeiro tipo chamarei de Realizados. Eles estão no poder, logo tem tudo, ou a sensação. E para se manter no topo da pirâmide criam, e recriam quando necessário, a moral - do latim normal. A moral faz com que os outros dois grupos sejam recompensados quando fazem o que é considerado normal e punidos quando fogem da normalidade. Para patrocinar e punir o segundo grupo, os Ascendentes Resignados, que também querem ter tudo um dia, se fazem necessários. Por último, e menos importante, estão os Seguidores, que, deixe-me ser criativo, hummm, obedecem já que eles não tem nada. Então, o objeto de estudo da Sociologia deveria ser somente, e tão somente, a relação entre esses três grupos. Assim, vocês chegariam mais rápido a conclusão que por mais que exista um grupo que cria, outro que promove a criação e um último que acha legal, flutuar entre os grupos é uma questão de escolha, vindo do exercício do comportamento privado e o teatro público. Sei, ficou meio conceitual esse final, mas não tem problema, já falei sobre os três grupos, o resto vocês podem fazer sozinho.
Normalmente, nesse tipo de situação, surgiria um silêncio que teria sua maturidade atingida em 30 segundos. Só que não foi o que aconteceu. Um aluno se levantou e começou a falar como se fosse possível ricochetear uma bola de canhão com uma pena de galinha:
-Você disse que a questão é sintética, mas apresenta como função majoritária da Sociologia três grupos e além disso formaliza um produto final de extrema abstração. Não concordo com sua visão, prefiro continuar como o objeto de estudo a sociedade. Simples assim.
- Simples assim, é? Tá bom. - pausa para fingir que aceitou - Sapo!
Ninguém pode perceber, mas o único aluno que foi capaz de reagir prontamente ao desafio de questionar a definição de sociologia "bem sintética, do jeito que, na verdade, a questão é" teve seu cérebro trocado com um Telmatobius culeus, um sapo, que existe apenas em um lugar remoto na terra. É claro que tamanha transmigração de massa cefálica teve um impacto drástico no poder de cognição do rapaz, que ainda conseguiu, brilhantemente, sentar-se e abrir levemente a boca, estado em que se encontrava a grande maioria das bocas que habitava a sala. O que deixaria orgulhoso, famoso e rico o descobridor da rara espécie de anfíbio. Pois teria conseguido, com esta evidência, por fim, provar a capacidade desse animal em imitar movimentos humanos.
Na saída da faculdade o diálogo entre o estranho par foi inevitável:
- Eu pensava que você iria falar sobre aquele negócio de "areia e cimento. Tudo se resume a areia e cimento. O que é natural e o que o homem pode fazer da natureza."
- Isso é a questão final da Filosofia.
- Ah tá. Bem, podemos ir lá no Titicaca ver como ficou?
- Ficou o que?
- O sapo. Quero ver como fica um sapo com mais de 2 quilos de neurônios na caixola.
- Não. Vai você. Fico com dor de cabeça em lugares de grandes altitudes.
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